Além das belezas naturais

A realidade de um Nordeste em crise

Tendo em vista o cenário mundial atual, muito se tem falado da violência que permeia nossa sociedade. Recentemente, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública lançou a edição 2023 do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, mostrando, em números, como está o número de Mortes Violentas Intencionais (MVI) no Brasil.

Primeiramente, é importante mencionar que o MVI é um índice que leva em consideração crimes que tem como resultado a morte, como é o caso de homicídio, latrocínio e lesão corporal seguida de morte. Além disso, também leva em consideração o falecimento de agentes públicos (policiais) no exercício da sua função e sua letalidade durante as operações.

Diante disso, ao analisarmos os dados é possível perceber que a taxa de mortes violentas intencionais no Brasil se manteve crescente até o ano de 2017, totalizando 64.078 vítimas. Posteriormente, a partir de 2018 esse número começou a diminuir, chegando a menor taxa da última década no ano de 2022, totalizando 47.398.

Ao adentrar, de forma pormenorizada, no estudo da violência no Brasil é possível analisar a influência das regiões nesse montante. Por mais que a diminuição seja significativa quando comparada com o ano de 2017, a Região Nordeste e a Região Sudeste continuam sendo as duas regiões mais violentas do país, sendo responsáveis, quando somadas, por mais de 50% do total das mortes violentas que ocorrem no Brasil, como pode ser visto na Figura 2.

Logo, é possível perceber que pelo menos desde 2011, o Nordeste, região detentora de 26.1% da população brasileira ou 54,6 milhões de habitantes, mesmo possuindo uma população inferior ao Sudeste, responsável por manter 41,8% da população brasileira ou 84,8 milhões de habitantes, de acordo com o senso de 2022 do IBGE, continua sendo a região que possui o maior número de mortes violentas no território nacional. Apesar disso, quando analisado o número de mortes violentas dos anos de 2021 e 2022 é perceptível que o Nordeste foi a região que mais diminuiu seu número absoluto quando comparado com outras regiões do Brasil, como pode ser visualizado na Figura 3.

Entretanto, por mais que o número absoluto de mortes da região Nordeste tenha diminuído entre os anos de 2021 e 2022, a violência da região continua constante. Nesse sentido, ao analisar os 50 munícipios mais violentos do Brasil no ano de 2022 com base no índice do MVI e levando em consideração apenas aqueles entes que possuem uma população acima de 100 mil habitantes, constata-se que 52% encontram-se na Região Nordeste, 2% na Região Centro-Oeste, 24% na região Norte, 10% na região sul e 12% na Região Sudeste. Assim, percebe-se que mais da metade dos municípios mais violentos do país encontram-se na região Nordeste, como apresentado na Figura 4.

Portanto, analisar esses dados torna-se fundamental para intensificar as discussões sobre segurança pública, sobretudo nos estados nordestinos, continua sendo, com o passar dos anos, a região com os estados mais violentos do Brasil. A manutenção desse estado de insegurança pode ter várias causas, como é o caso da expansão das facções criminosas para a região, falta de investimentos em segurança pública e a desigualdade social.

O alto nível de insegurança acaba por afetar diretamente a população e a economia de toda a região. Assim, uma região conhecida por ter tantas belezas naturais, frequentemente visitada por muitos turistas, pode ter uma da sua fonte de renda, tão importante para a região, prejudicada. Além disso, pode ocorrer a fuga da própria população, buscando localidades que possuem um menor índice de criminalidade.

Por fim, fica como sugestão para próximos estudos mapear as causas da violência tão elevada na região nordeste, buscando, assim, formas para combater o problema que assola a região há mais de uma década.

Referência

FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA. 17º Anuário Brasileiro de Segurança Pública. São Paulo: Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 2023. Disponível em: https://forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2023/07/anuario-2023.pdf. Acesso em: 22 out. 2023.

Por Pablo Guilherme de Oliveira Araújo