Brasil lidera ranking de desempenho ambiental entre BRICS, mas desmatamento ameaça posição; Índia e China seguem em crise ambiental
Comparativo do EPI entre Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul revela desafios estruturais, necessidade de investimentos em tecnologias verdes e inovações rumo à sustentabilidade global
Como medir o desempenho e a eficiência das políticas públicas ambientais dos países? Essa questão impulsionou a criação de índices capazes de classificar a eficácia das medidas ambientais, identificar problemas e rastrear tendências. Um dos principais é o Environmental Performance Index (EPI), desenvolvido pela Yale University e pela Columbia University, em colaboração com o World Economic Forum. Lançado em 2002 como evolução do Environmental Sustainability Index (ESI), o EPI oferece uma métrica objetiva para monitorar a saúde ambiental e a sustentabilidade das nações.
Metodologia e contexto global
Atualmente, a metodologia do EPI combina 58 indicadores distribuídos em 11 categorias, abrangendo temas como mitigação das mudanças climáticas, poluição do ar, gestão de resíduos, sustentabilidade da pesca e agricultura, desmatamento e proteção da biodiversidade. O índice classifica 180 países, atribuindo posições que variam de 1 (melhor desempenho) a 180 (pior desempenho), e atualizado a cada dois anos – a última edição foi publicada em 2024. O gráfico a seguir demonstra os 10 países mais bem classificados no ranking de 2024 e suas respectivas pontuações.
No cenário global, os países que lideram o ranking compartilham características como governança ambiental eficiente, alto investimento em energias renováveis e políticas públicas voltadas à sustentabilidade. Por exemplo, a Estônia se destaca pela digitalização de serviços e transição energética, Luxemburgo adota subsídios para mobilidade limpa, e países como Alemanha, Suécia e Dinamarca são referências na implementação de energias renováveis. Esses exemplos demonstram que décadas de investimento em infraestrutura verde, regulamentação rigorosa e conscientização pública podem resultar em elevados índices de desempenho ambiental.
Análise dos BRICS
Após compreender a metodologia do EPI e o panorama global, torna-se interessante avaliar o desempenho ambiental dos BRICS – grupo originalmente formado por África do Sul, Brasil, China, Índia e Rússia, criado em 2009. Embora o grupo tenha se expandido para incluir outros países como membros-parceiros, esta análise se concentrará nos cinco membros originais, especialmente relevante em 2025, pois o Brasil assumiu a presidência do grupo, e tem impulsionado debates sobre sustentabilidade e mudanças climáticas.
Os gráficos a seguir apresentam a evolução do EPI desses países entre 2010 – um ano após a fundação do grupo – e 2024, data da última medição. Em cada gráfico, a posição indica o ranking que o país ocupava naquele ano.
África do Sul
A trajetória da África do Sul mostra oscilações significativas. Em 2010, o país estava na 115ª posição, caiu para a 128ª em 2012 e melhorou para a 72ª em 2014. Em 2018, atingiu seu pior desempenho (142ª), oscilando depois para 95ª em 2020, 116ª em 2022 e 106ª em 2024. Essa instabilidade reflete desafios como a dependência de uma matriz energética baseada em carvão, crises hídricas recorrentes, emissões elevadas e degradação da biodiversidade. Além disso, fatores como a poluição urbana e o impacto ambiental da mineração ressaltam a necessidade de investimentos contínuos em tecnologias de monitoramento e em políticas de uso racional dos recursos naturais.
Brasil
Entre os BRICS, o Brasil apresenta desempenho relativamente positivo e vem se destacando pela recuperação em determinados períodos. Em 2010, figurava na 62ª posição e atingiu seu melhor resultado em 2012, quando chegou à 30ª colocação. Apesar de quedas para 77ª em 2014 e 46ª em 2016, melhorou para 55ª em 2018. Em 2022, sofreu nova queda (81ª) – coincidindo com o final do Governo Bolsonaro –, mas recuperou-se parcialmente, alcançando a 47ª posição em 2024.
Essa evolução revela não só a influência de mudanças administrativas e de políticas públicas, mas também a importância de medidas estruturais para o monitoramento do desmatamento, o combate às queimadas e a melhoria na gestão dos resíduos urbanos. A modernização do aparato estatal e o crescente engajamento da sociedade civil também têm contribuído para a gradual recuperação do desempenho ambiental do país.
China
A China tem mantido desempenho abaixo do 100º lugar. Em 2010, ocupava a 121ª posição, melhorou levemente para 116ª em 2012 e 118ª em 2014, atingindo 109ª em 2016. Contudo, recuou para 120ª em 2018 e 2020, despencou para 160ª em 2022 e apresentou leve recuperação, chegando a 156ª em 2024.
Apesar de grandes investimentos em energias renováveis e na modernização da infraestrutura industrial, a rápida urbanização e a dependência histórica do carvão para geração de energia ainda impactam negativamente seu índice. A crescente pressão internacional por uma maior responsabilidade ambiental tem incentivado o país a revisar e aprimorar suas políticas, mas a transição energética e a redução dos impactos da poluição ainda exigem esforços significativos.
Índia
A Índia, por sua vez, apresenta o pior desempenho do grupo. Em 2010, estava na 123ª posição, piorou para 125ª em 2012, 155ª em 2014 e 141ª em 2016. Em 2018, atingiu a 177ª posição, melhorou ligeiramente para 168ª em 2020, mas caiu para a última posição (180ª) em 2022, recuperando-se marginalmente para 176ª em 2024. O país enfrenta desafios ambientais severos, como a extrema poluição do ar, contaminação de rios, saneamento básico deficiente e gestão precária de resíduos.
O rápido crescimento populacional e a urbanização acelerada intensificam esses problemas. Iniciativas voltadas à modernização da infraestrutura urbana, investimentos em transporte público sustentável e a adoção de tecnologias limpas são essenciais para a Índia poder reverter essa tendência e melhorar seu desempenho ambiental a médio e longo prazo.
Rússia
O desempenho da Rússia foi bastante oscilante. Em 2010, estava na 69ª posição, caiu para 106ª em 2012 e recuperou-se significativamente, atingindo a 32ª posição em 2016 – seu melhor resultado histórico. Em seguida, recuou para 52ª em 2018, 58ª em 2020 e 112ª em 2022, recuperando para 83ª em 2024. Os desafios russos incluem a forte dependência de combustíveis fósseis, a exploração intensiva de recursos naturais e a limitada adoção de energias renováveis.
O cenário é agravado pela necessidade de modernizar setores industriais e por restrições econômicas que dificultam investimentos em infraestrutura ambiental. Recentes iniciativas de modernização tecnológica e regulamentações ambientais mais rigorosas têm buscado reverter esse quadro, mas a estrutura econômica voltada para a extração de petróleo e gás ainda impõe limites à sustentabilidade do país.
Fatores econômicos, inovação e perspectivas futuras
Um aspecto comum entre os BRICS é a relação complexa entre crescimento econômico e desempenho ambiental. Apesar de uma correlação positiva entre Produto Interno Bruto (PIB) e índices ambientais – em que países com maiores recursos tendem a investir mais em tecnologias verdes – esse investimento nem sempre se traduz em melhorias imediatas no EPI. Enquanto o Brasil e a Rússia demonstram que mudanças administrativas e políticas de incentivo à inovação podem gerar ganhos expressivos, a China e a Índia mostram que o rápido crescimento industrial pode, em curto prazo, ofuscar os avanços ambientais.
Iniciativas inovadoras, como a digitalização de serviços públicos e o uso de inteligência artificial para monitoramento ambiental, estão ganhando espaço e podem representar uma virada no cenário dos BRICS. A aposta em energias renováveis, a modernização do transporte urbano e a promoção de políticas de incentivo à economia circular são estratégias que, se ampliadas, poderão contribuir para uma melhoria consistente nos índices de desempenho ambiental dos países.
O Brasil se destaca entre os BRICS, mantendo-se consistentemente entre as 50 a 80 melhores posições do ranking. A Rússia teve momentos positivos, especialmente em 2016, mas não conseguiu sustentar o progresso. África do Sul e China apresentam desempenho instável, enquanto a Índia figura entre os piores colocados.
Essa análise evidencia que, apesar dos avanços pontuais e dos investimentos em tecnologias limpas, todos os países do grupo enfrentam desafios estruturais – como poluição, desmatamento, dependência de combustíveis fósseis e crescimento urbano desordenado. Para melhorar no ranking, é imperativo que esses países adotem políticas ambientais mais rigorosas, ampliem o uso de energias renováveis e invistam continuamente em infraestrutura sustentável, aproveitando também os benefícios da inovação tecnológica.