Ocupação e grau de instrução dos candidatos ao pleito de 2024: o que esperar da Câmara Municipal de Mossoró/RN nos próximos quatro anos?
Empresários e comerciantes representam a maior parte dos candidatos às eleições municipais em Mossoró para o Poder Legislativo
O processo eleitoral de 2024 contará com novas reformas eleitorais, que prometem tumultuar a disputa, sendo uma delas a redução de candidaturas por partido político. Com 215 (duzentos e quinze) candidatos registrados, Mossoró/RN tem seu menor número de concorrentes para a Câmara Municipal desde 2012. Mas este fator não indica que a disputa eleitoral será menos acirrada, já que são apenas 21 (vinte e uma cadeiras) a serem preenchidas. Mas qual é o perfil desses candidatos?
O Portal de Dados Abertos do TSE disponibiliza informações sobre o perfil das candidaturas do ano de 2024, em que é possível visualizar dados sobre o gênero, ocupação, partido, grau de instrução, faixa etária, estado civil, cor/raça, se é quilombola e identidade de gênero. Desse modo, visando compreender possíveis interesses dos próximos titulares da Câmara Municipal, iremos avaliar a ocupação e o grau de instrução dos candidatos, como forma de tecer previsões acerca dos interesses que serão defendidos nos próximos anos.
Em primeiro lugar, a ocupação dos concorrentes ao pleito:
Gráfico elaborado pela autora com dados disponibilizados pelo TSE.
É perceptível que a categoria de comerciantes e empresários é predominante entre as ocupações dos candidatos às eleições municipais. Este fato pode indicar que as políticas públicas voltadas para estes setores serão mais recorrentes nos próximos anos, seja voltadas para geração de empregos, por exemplo, ou, até mesmo, para alterações de caráter tributário, conforme constatou a Exame em pesquisa acerca dos interesses do empresariado para essas eleições.
A aparição da categoria de agricultor dentre as ocupações mais recorrentes surpreende, tendo em vista que no ano de 2020 a profissão sequer apareceu entre as oito mais frequentes. Essa representação é importante como forma de garantir a representação do grupo, com a garantia de políticas públicas que fortaleçam a agricultura familiar e deem atenção para a área rural de Mossoró.
A avaliação das categorias é imprescindível para que o eleitor possa identificar em quais interesses está votando e quais são as possíveis pautas futuras, tendo em vista que cada grupo busca viabilizar melhores condições para sua classe.
Em segundo lugar, destaca-se o grau de instrução dos candidatos:
Gráfico elaborado pela autora com dados disponibilizados pelo TSE.
A partir do gráfico é possível inferir que as candidaturas em Mossoró são majoritariamente de cidadãos que possuem, pelo menos, o ensino médio completo, seguido pelo ensino superior completo. O padrão do gráfico reflete o mesmo cenário do município no ano de 2020. A partir dessas informações é necessário questionar se o fato de a maioria dos candidatos possuir ensino médio ou superior realmente indica uma democratização do acesso à educação e, consequentemente, das oportunidades de participação política.
A presença majoritária de candidatos com níveis educacionais mais altos pode evidenciar, na verdade, uma barreira implícita para a participação de cidadãos com menor escolaridade, refletindo as desigualdades sociais e educacionais existentes no município. Isso levanta a questão: até que ponto o sistema político-eleitoral de Mossoró é inclusivo e capaz de representar as diversas camadas sociais da população?
Além disso, deve-se considerar o papel da educação na formação de candidatos e como isso influencia suas campanhas e propostas. Ter uma educação formal não necessariamente significa ter um preparo adequado para a gestão pública ou para lidar com as complexidades da administração de um município. Assim, a predominância de candidatos com ensino médio ou superior pode mascarar a falta de diversidade de perspectivas e experiências que são fundamentais para a construção de políticas públicas mais inclusivas e equitativas.
Por fim, apresentamos o cruzamento entre os dois dados apresentados:
Gráfico elaborado pela autora com dados disponibilizados pelo TSE.
A relação entre o grau de instrução e a profissão dos candidatos ao pleito levanta questões relacionadas à escolaridade da classe dos agricultores, totalmente carente de representação na Câmara Municipal, e a possibilidade de eleição desses indivíduos. Este questionamento diz respeito ao acesso adequado aos meios de campanha, assim como à legislação correspondente, podendo indicar uma necessidade maior de assistência jurídica a estes candidatos.
O cenário educacional e profissional das candidaturas em 2020 pode estar ligado a fatores socioeconômicos que privilegiam certos grupos, relegando outros a uma posição de menor representatividade. Isso reflete um desafio maior para a democracia local, que é a necessidade de criar mecanismos que incentivem e viabilizem a participação política de pessoas com diferentes níveis de escolaridade e categorias, de modo a garantir que todas as vozes sejam ouvidas e representadas no processo político.
As informações apresentadas também podem ser correlacionadas em momento posterior ao embate eleitoral, como forma de avaliar o comportamento de cada classe, seja no resultado do pleito como no âmbito da judicialização, a fim de avaliar se os dados apresentados exercem algum tipo de influência na disputa e em seus futuros desdobramentos.
Parabéns pela análise!