Mulheres na diplomacia: avanço ou estagnação?
Em 2023, mulheres ocuparam apenas 23,1% dos cargos diplomáticos no Brasil
O Ministério das Relações Exteriores - Itamaraty, é o órgão do Poder Executivo responsável pela política externa e pelas relações internacionais do Brasil, seja nos planos bilaterais, regionais e multilaterais. O órgão assessora o Presidente da República na formulação da política exterior do Brasil e na execução das relações diplomáticas com Estados e organismos internacionais. Com uma rede de 117 representações no mundo, o Ministério promove os interesses do País no exterior, presta assistência aos cidadãos brasileiros e dá apoio a empresas brasileiras.
Além disso, o Itamaraty organiza as visitas oficiais ao Brasil de Chefes de Estado e de Governo e demais altas autoridades estrangeiras, bem como prepara e operacionaliza as visitas do Presidente da República, do Vice-Presidente da República e do Ministro das Relações Exteriores a outros países.
Em 1938, o Decreto-Lei 791 proibiu a entrada de mulheres na carreira diplomática no Brasil, limitando suas oportunidades profissionais em um dos setores mais prestigiados do país. Apenas em 1954, com a Lei 2.171, as mulheres passaram a ser reconhecidas como aptas a ingressar na carreira, tendo o direito sido garantido a todos os "brasileiros natos, sem distinção de sexo".
Diante disso, é pertinente questionar como está a representatividade feminina em um órgão tão estratégico para a formulação da política externa e a condução das relações internacionais do Brasil. A distribuição das servidoras na carreira diplomática reflete um avanço na equidade de gênero ou revela a persistência de obstáculos que limitam sua ascensão?
De acordo com os dados apresentados pelo Observatório Brasil de Igualdade de Gênero, no Relatório Anual Socioeconômico da Mulher (RASEAM), publicado em 2024 e 2025, referente aos anos de 2022 e 2023, observa-se que a participação feminina registrou um crescimento discreto entre os períodos analisados:
O gráfico acima representa um compilado dos dados apresentados nos Relatórios anuais, revelando informações sobre a quantidade de servidores(as) ativos(as) da carreira diplomática no Brasil nos anos de 2022 e 2023, com uma divisão por gênero (homens e mulheres), por classe/cargo.
O gráfico tem barras empilhadas, com cores distintas para os diferentes grupos: mulheres 2022 (roxo), mulheres 2023 (rosa), homens 2022 (azul) e homens 2023 (azul claro). As colunas à esquerda correspondem ao ano de 2022, enquanto as da direita representam o ano de 2023.
Em 2022, o total de cargos no Itamaraty foi de 1.543, dos quais 1.188 eram ocupados por homens e apenas 355 por mulheres. Assim, as mulheres representavam apenas 23% desse cenário, enquanto os homens alcançavam uma maioria expressiva de 77%.
Em 2023, o número total de cargos diminuiu para 1.525, com 352 ocupados por mulheres e 1.173 por homens, resultando em proporções semelhantes: 23,1% para mulheres e 76,9% para homens
Destaca-se que o cargo de Ministro de Primeira Classe representa a posição mais elevada na hierarquia profissional do Itamaraty, correspondendo à função de Embaixador. Em 2022, apenas 43 mulheres ocupavam esse posto, enquanto os homens preenchiam os demais 169 cargos. Já em 2023, houve um incremento para 47 mulheres, embora os homens tenham registrado um aumento ainda mais significativo, atingindo 188 ocupantes dessa posição.
Em linhas gerais, a representatividade feminina entre diplomatas apresentou um aumento modesto de apenas 1% entre os anos de 2022 e 2023. Embora esse crescimento seja um indicativo de algum progresso, ele é tímido diante da persistente desigualdade de gênero.
Portanto, apesar de o número de mulheres no topo da hierarquia ter crescido, a distância entre as oportunidades para homens e mulheres ainda é evidente. Esse cenário reforça a ideia de que, em termos de representatividade e poder dentro da diplomacia brasileira, a figura predominante é a de um homem.
Era esperado que, com a revogação do Decreto-Lei nº 791 e a promulgação da Lei nº 2.171, que abriu espaço para a presença feminina na diplomacia brasileira, a representatividade feminina fosse, ao menos, equivalente à dos homens, especialmente considerando que já se passaram 71 anos desde a entrada em vigor dessa legislação.
O fato é que a estrutura ainda favorece a presença masculina, o que indica que há muito a ser feito para alcançar uma verdadeira equidade de gênero dentro do Itamaraty.
Portanto, é possível concluir que, apesar dos avanços pontuais, a diplomacia brasileira ainda carrega, simbolicamente, a marca de um homem em sua liderança e nas suas principais posições de poder. De fato, no exterior, o Brasil é um homem.
Parabéns pela pesquisa!
Excelente pesquisa!!