O cenário da imigração no Brasil diante dos desafios globais e das políticas migratórias restritivas
Ao analisar as nacionalidades que mais transitaram pelo Brasil, destacam-se os argentinos, estadunidenses e chilenos.
A imigração tem sido um dos temas centrais no debate político mundial, especialmente diante de medidas restritivas adotadas por algumas nações. Nos Estados Unidos, o governo de Donald Trump retomou sua postura rígida contra imigrantes, reforçando políticas de controle fronteiriço. Na América do Sul, o presidente argentino Javier Milei anunciou a construção de um muro na fronteira com a Bolívia, medida que remete à barreira proposta pelos EUA para conter a entrada de imigrantes pelo México.
Diante desse cenário de endurecimento das políticas migratórias em diversas partes do mundo, torna-se ainda mais relevante analisar como o Brasil tem lidado com os fluxos migratórios. O Relatório Anual do OBMigra 2023, última edição elaborada, traz um panorama detalhado sobre o perfil dos imigrantes no país, suas principais origens, os setores em que se inserem no mercado de trabalho e os desafios enfrentados nesse processo.
No Brasil, o volume de movimentação pelas fronteiras apresentou números expressivos em 2023, com 27,4 milhões de movimentos entre entradas e saídas do país.
Ao analisar as nacionalidades que mais transitaram pelo país, destacam-se os argentinos, com 3,9 milhões de registros, seguidos pelos estadunidenses, com 1 milhão, e pelos chilenos, com 981 mil movimentações. Esses fluxos se concentraram, principalmente, nas fronteiras de São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina.
O relatório também evidencia um avanço significativo na emissão de vistos em 2023. O Brasil emitiu 44,7 mil vistos para chineses e 12 mil para indianos, refletindo um movimento de atração principalmente de trabalhadores e turistas desses países. Além disso, 62,1% dos vistos foram subsídios para fins de visitação, 12,4% para trabalho, e 6,5% para colhida humanitária, o que demonstra uma política migratória diversificada e inclusiva, mas ainda centrada no turismo e na recuperação econômica.
Acerca dos imigrantes autorizados a residir no Brasil para fins laborais e de investimentos, destaca-se a presença majoritária de indivíduos provenientes da China, Filipinas e Índia.
Ademais, a soma dos valores investidos por imigrantes em pessoa jurídica e em imóveis alcançou a cifra de R$ 327,4 milhões. Foram investimentos, em grande medida, realizados por estadunidenses, franceses, alemães e italianos, e direcionados aos estados do Rio de Janeiro, Ceará e São Paulo.
Deve-se destacar, ainda, que em 2023 quase 400 mil trabalhadores imigrantes estiveram ativos no mercado formal, com a criação de 47,2 mil novas vagas destinadas a essa força de trabalho. Entre as nacionalidades com maior presença, destacam-se venezuelanos, cubanos, argentinos, paraguaios e angolanos, concentrados principalmente em setores como alimentação e linha de produção, além da atuação significativa de magarefes.
De tal modo, a presença de imigrantes fortalece setores estratégicos da economia, suprindo demandas por mão de obra especializada e estimulando o crescimento de diversas áreas produtivas. Além disso, os investimentos realizados por estrangeiros contribuem diretamente para a criação de empregos e o fortalecimento de mercados locais, impulsionando o dinamismo econômico e promovendo a diversificação de setores.
Portanto, a imigração deve ser encarada não como um desafio, mas sim como um fenômeno essencial para o desenvolvimento econômico, social e cultural dos país. No Brasil, onde a circulação de estrangeiros continua significativa, é fundamental que as políticas migratórias sejam bem estruturadas para garantir a integração efetiva dos imigrantes e a maximização de suas contribuições para o mercado de trabalho e a sociedade.