Brasil em chamas: a crise climática e a realidade alarmante do aumento das queimadas em 2024
Mesmo com aumento no orçamento para combate e prevenção, Brasil segue enfrentando um cenário alarmante de incêndios
No último ano, o Brasil enfrentou desafios significativos na problemática ambiental, principalmente com relação às queimadas, que continuam sendo uma das principais ameaças aos seus biomas, especialmente a Amazônia e o Cerrado. Esses incêndios, provocados tanto por causas naturais quanto por ações humanas, têm impactos ambientais, econômicos e sociais profundos, afetando a biodiversidade, a qualidade do ar e as comunidades locais.
Essa crise tem se intensificado ao longo dos anos, e especialistas alertam que a recorrência desses incêndios pode comprometer a biodiversidade da Amazônia, um dos principais patrimônios naturais do país. Segundo o MapBiomas, as condições climáticas desempenham um papel determinante nos incêndios. No entanto, fatores endógenos, como o desmatamento, a expansão da grilagem e as secas prolongadas, contribuem para a propagação do fogo, aumentando, assim, a área queimada.
Em 2025, a situação na América do Sul revela um cenário preocupante, com o Brasil se destacando entre os países com maior número de focos de queimada. O mapeamento dos focos de incêndio é realizado via satélite pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, por meio do Programa Queimadas, que cataloga os dados desde 1998. O gráfico a seguir ilustra a distribuição desses focos no continente ao longo deste ano.
Dados de 2025 sobre os focos de queimada na América do Sul
Gráfico disponibilizado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.
Através da representação, que apresenta dados dos meses de janeiro e fevereiro de 2025, destaca-se situação da Venezuela como o país com o maior número de ocorrências. O Brasil aparece em segundo lugar, com um número significativo de focos, quase empatada com a Colômbia. A Argentina, que aparece em quarto lugar, também aparenta estar em situação de crise, com quase 5.000 focos de incêndio só em 2025.
Para compreender a magnitude e a persistência das queimadas no Brasil, é essencial analisar a evolução dos focos de incêndio ao longo do tempo. O gráfico a seguir apresenta essa trajetória, destacando as principais tendências e picos observados nas últimas décadas.
Série histórica total de focos de incêndio registrados via satélite no Brasil
Gráfico disponibilizado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.
Neste segundo gráfico, é possível observar os focos de incêndio no Brasil ao longo dos anos, evidenciando picos significativos entre os anos 2002 e 2010, seguidos por uma queda relativa e oscilações nos períodos posteriores. A partir de 2012, observa-se uma estabilidade nos números, com valores consideráveis e relativamente próximos entre si, indicando a persistência do problema. No entanto, em 2024, há um aumento expressivo no número de focos desde o último pico, há quase 15 anos, atingindo um dos maiores patamares dos últimos anos.
Ainda, é possível analisar um comparativo anual, desenvolvido pelo INPE, entre os países sul-americanos permite identificar quais nações concentram os maiores números de queimadas, além de evidenciar tendências regionais e possíveis relações com políticas de preservação ambiental. A tabela a seguir apresenta esses dados, oferecendo um panorama das queimadas no continente ao longo dos últimos sete anos em um intervalo específico, entre 01 de janeiro e 23 de fevereiro dos respectivos anos.
Tabela disponibilizada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.
A partir dos dados da tabela, é perceptível os índices de focos de incêndio no mesmo período desde 2019 entre os países da América do Sul. No caso do Brasil, os dados mostram uma variação significativa ao longo dos anos. Em 2019, foram registrados 6.209 focos, com uma queda nos anos seguintes, atingindo 4.154 em 2022. No entanto, houve um aumento expressivo em 2023, com 4.173 focos, e um salto ainda maior em 2024, quando o número atingiu 8.008, representando um crescimento de 91% em relação ao ano anterior. Em contrapartida, em 2025, os números preliminares indicam uma redução, mas ainda permanecem elevados.
O Brasil não é o único país que teve um pico no número de queimadas em 2024. A Venezuela teve um dos maiores crescimentos, com 16.518 focos, um aumento de 137% em relação a 2023. A Argentina também apresentou uma alta expressiva, com 1.309 focos, um aumento de 205% em relação a 2023. No Paraguai, houve um crescimento de 38%, enquanto Equador e Uruguai registraram aumentos de 66% e 227%, respectivamente. Esta situação indica que o aumento expressivo no número de focos de incêndio não é uma situação exclusiva do Brasil.
Mas o que pode explicar esse aumento exorbitante das queimadas no Brasil? É possível atribuir esse efeito ao Poder Executivo e ao orçamento destinado para o combate e prevenção de incêndios?
Para responder a esses questionamentos, buscamos uma análise orçamentária acerca dos valores destinados à esses programas pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA). Ocorre que os recursos para esses fins são distribuídos aos órgãos da Administração Pública, como IBAMA e ICMBio, que investem em ações de prevenção e combate aos incêndios. O que foi possível localizar acerca desse tema foi uma matéria da CNN, em que o MMA destacou o orçamento dos últimos 6 anos, conforme o gráfico abaixo.
Mesmo com a destinação de recursos para o combate a incêndios, os dados demonstram um número alarmante de queimadas. Diante desse cenário, os órgãos responsáveis e a legislação deveriam atuar de forma mais incisiva. No entanto, falhas na fiscalização e frequentes fraudes comprometem a efetividade das medidas de proteção. Esse problema torna-se evidente ao observar a degradação ambiental crescente, apesar da existência de orçamentos voltados à proteção, prevenção e restauração dos biomas.
Diante dessa análise, fica evidente que apenas a alocação de recursos não é suficiente para conter o avanço das queimadas. O problema apresenta raízes mais profundas, relacionadas à fragilidade dos meios de fiscalização, à aplicação ineficaz das penalidades previstas em lei e à ausência de estratégias preventivas adequadas, o que faz com que qualquer medida adotada acabe se tornando apenas um paliativo. Além disso, a conscientização da população e o incentivo a práticas sustentáveis podem contribuir para a redução desses incêndios, garantindo a preservação do meio ambiente e a mitigação dos danos causados.